sexta-feira, 27 de maio de 2011

Café contra Alzheimer


6/7/2009

Agência FAPESP – Café para o tratamento de Alzheimer? É o que descrevem dois artigos publicados neste domingo no Journal of Alzheimer's Disease. Os trabalhos por enquanto foram feitos apenas em camundongos, mas os resultados deixaram os autores otimistas.

Segundo o grupo internacional de pesquisadores responsável pelos dois estudos complementares, a ingestão de cafeína levou à redução de níveis anormais de placas amiloides – depósitos de proteínas que danificam nervos no cérebro e são características da doença – tanto no sangue como no cérebro de camundongos.

Os estudos foram baseados em trabalhos anteriores feitos no Centro de Pesquisa sobre a Doença de Alzheimer da Universidade do Sul da Flórida, nos Estados Unidos, os quais mostraram que a administração de cafeína no início da vida adulta preveniu a manifestação de problemas de memória em camundongos modificados geneticamente para desenvolver sintomas de Alzheimer quando idosos.

“Os novos resultados fornecem evidência de que a cafeína pode ser uma alternativa viável para o tratamento da doença já estabelecida, e não apenas como uma estratégia preventiva. Isso é muito importante, pois o consumo de cafeína é seguro para a maioria das pessoas, ela entra facilmente no cérebro e aparentemente afeta diretamente o processo da doença”, disse Gary Arendash, da Universidade do Sul da Flórida, um dos coordenadores das pesquisas.

Com base nos resultados animadores, os cientistas esperam começar em breve testes em humanos para avaliar se a cafeína pode beneficiar pacientes com prejuízo cognitivo suave ou Alzheimer em estágio inicial.

Os pesquisadores haviam determinado em trabalho anterior que a administração de cafeína em idosos sem sinais de demência altera rapidamente os níveis de beta-amiloide (proteína responsável pela formação da placa) no sangue, da mesma forma como foi verificada em testes com animais.

O grupo se interessou em investigar o potencial da cafeína há alguns anos, após a publicação de um estudo feito em Portugal que apontou que pessoas com Alzheimer haviam consumido menos café nos 20 anos anteriores do que outros sem a doença.

Desde então, diversos estudos clínicos não controlados apontaram que o consumo moderado de café poderia proteger contra o declínio da memória que ocorre normalmente durante o envelhecimento.

Os novos estudos, controlados, permitiram isolar efeitos da cafeína de outros fatores, como dieta ou exercício, segundo os autores.

Os trabalhos foram feitos em 55 camundongos geneticamente alterados para desenvolver problemas de memória, simulando Alzheimer, à medida que envelheciam.

Depois que testes comportamentais confirmaram que os animais apresentavam sinais de déficits de memória por volta dos 18 meses – que correspondem aos 70 anos em humanos –, os pesquisadores dividiram os camundongos em dois grupos, um dos quais passou a receber café junto com a água que bebiam.

Os roedores ingeriram cerca de 500 miligramas de café por dia, o equivalente a um pouco mais de dois expressos.

Após os dois meses da pesquisa, o grupo que ingeriu café se saiu bem melhor do que o outro em testes para avaliar a memória.

De acordo com os pesquisadores, a análise dos cérebros dos camundongos que consumiu café mostrou uma redução de quase 50% nos níveis de beta-amiloide.

Outro experimento do mesmo grupo indicou que a cafeína aparentemente restaura a memória ao reduzir as quantidades de enzimas necessárias para a produção da beta-amiloide.

Os autores estimam que a cafeína deve suprimir as alterações inflamatórias no cérebro que levam à abundância de beta-amiloide.

Se a cafeína teve importante ação nos animais doentes, o mesmo não ocorreu em outro experimento feito com exemplares saudáveis.

Nesses, a administração da substância não levou a uma melhoria da memória.

Os artigos Caffeine reverses cognitive impairment and decreases brain amyloid-β levels in aged Alzheimer's disease mice e Caffeine suppresses amyloid-β levels in plasma and brain of Alzheimer's disease transgenic mice podem ser lidos por assinantes do Journal of Alzheimer's Disease em www.j-alz.com.

(DO BOLETIM DA FAPESP)

sábado, 14 de maio de 2011

Doença de Alzheimer – Tratamento medicamentoso

Categoria(s): DNT, Neurogeriatria, Psicogeriatria



Resenha
alois













O estudo Epidoso que acompanha idosos residentes na comunidade em São Paulo, mostrou que o total de casos de demência é 7,1%. E, utilizando-se critérios diagnósticos clínicos, 70% dos casos foram considerados doença de Alzheimer, 12% demência vascular e 3% demência mista. A prevalência aumentou com a idade e foi mais alta entre indivíduos com baixo nível educacional.

Considerando-se a alta prevalência da doença de Alzheimer (DA) em todo o mundo e seu péssimo prognóstico, inúmeras pesquisas têm sido desenvolvidas a fim de se conseguir novas alternativas terapêuticas.

Fisiopatogenia da DA

Embora com etiopatogenia ainda não completamente conhecida, sabe-se que o déficit cognitivo na DA decorre basicamente da deficiência do neurotransmissor acetilcolina, por sua vez decorrente da morte neuronal exacerbada em população de neurônios colinérgicos.

Em vista disso, as pesquisas terapêuticas visam: aumentar a produção de acetilcolina com substâncias precursoras (colina, L-acetilcarnitina e a citicolina); drogas que inibissem a enzima de degradação da acetilcolina (Ex. donepezil, galantamina, tacrina, fisostigmina e o metrifonato).

Farmacologia

Precursores da acetilcolina  – Assim, as primeiras tentativas de tratamento tinham como proposta, aumentar a produção de acetilcolina pelos neurônios sobreviventes, através da suplementação de colina, o que não produziu efeitos significativos.

Outros precursores também foram utilizados, como a L-acetilcarnitina e a citicolina, porém com resultados pouco animadores, sugerindo que o problema não é a falta de precursores e sim a falta de atividade neuronal capaz de produzir acetilcolina.

Inibidores da acetil-colinesterase – Uma alternativa foi buscar drogas que inibissem a enzima de degradação da acetilcolina, a acetil-colinesterase (AchE), melhorando o aporte de acetilcolina na fenda sináptica.

Atualmente, várias drogas estão disponíveis nesta linha de atuação, respaldadas por estudos clínicos controlados por placebo.

Inibidores da AChE (IAChE)

Os IAChE têm comprovada efetividade em estudos clínicos controlados por placebo, melhorando a cognição por critérios objetivos e subjetivos.

Embora não revertam a progressão da doença, tendem a estabilizar o quadro cognitivo a médio prazo, diminuindo a velocidade das perdas, porém não contribuem para a cura da DA, que progride inevitavelmente.

O período mínimo de tratamento com IAChE é de seis meses para a avaliação da resposta.

Dependendo desta e da tolerância do paciente, o tratamento deve ser continuado, sendo que o efeito parece se manter por dois anos.

Os IAChE podem ser seletivos da AChE ou não seletivos e inibir também a butirilcolinesterase (BuChE), uma enzima que parece estar envolvida na patogênese da DA, cuja inibição pode apresentar benefícios clínicos adicionais.

Além da seletividade, essas drogas se diferenciam enquanto inibidores reversíveis, pseudo-irreversíveis e irreversíveis da AChE.

Entre os IAChE seletivos temos o donepezil e a galantamina que são inibidores reversíveis.

Entre os não seletivos temos a tacrina e a fisostigmina que são reversíveis e a rivastigmina que é pseudo-irreversível. Temos ainda o metrifonato, um inibidor não seletivo irreversível.

Tacrina – A primeira droga disponibilizada no mercado como IAChE foi a tacrina, que embora tenha demonstrado melhoras significativas da cognição em estudos clínicos controlados, mostrou efeitos adversos importantes, como a elevação de enzimas hepáticas (demandando controles periódicos de TGO e TGP), além de requerer várias tomadas ao dia.

A segunda geração de inibidores da acetilcolinesterase, mostrou ter bem menos toxicidade hepática e maior facilidade posológica.

Os efeitos colaterais são, em geral, gastrointestinais, tipo náuseas, vômitos e diarréia, podendo também afetar o sono.

Donepezil – O donepezil, de vida média mais longa, é administrado em dose única diária de 5 mg, podendo chegar a 10 mg, se houver melhora do quadro cognitivo e o paciente não apresentar reações adversas.

Rivastigmina – A rivastigmina, de vida média mais curta, deve ser administrada em duas tomadas ao dia, iniciando-se com comprimidos de 1,5 mg (3 mg/dia). A cada duas semanas, a dose pode ser aumentada em 1,5 mg até uma dose máxima de 6 mg duas vezes ao dia.

Há estudos mostrando que a rivastigmina, por inibir também a BuChE, pode ter benefícios adicionais em termos da lentificação da progressão da doença.

Mais recentemente foi lançada a galantamina, que além de inibir a acetilcolinesterase, exerce uma modulação alostérica nos receptores nicotínicos pós-sinápticos, desta forma potencializando o efeito neurotransmissor.

Deve ser tomada em duas doses diárias, iniciando com 8 mg e chegando a 24 mg ao dia.

Todas as drogas, no entanto, até o momento descritas com alguma eficácia, têm efeito a curto e médio prazo, já que não tratam o processo que leva a degeneração neuronal.

Tratamento preventivo

O tratamento preventivo da DA, almeja, uma droga que melhore o prognóstico da DA, é a preservação dos neurônios ainda existentes.

Uma droga com potencial preventivo, se tomada em fases pré-clínicas. Algumas substâncias se têm mostrado promissoras como neuroprotetores, é o caso do alfa-tocoferol (vitamina E) em doses elevadas (até 2000 UI/dia), assim como a selegelina (inibidor da MAO-B), que também tem atividade antioxidante.

A antioxidação, no caso da DA, atua neutralizando o processo de desgaste celular por estresse oxidativo, que leva, em última instância, à morte neuronal por apoptose (suicídio celular).

Outras vitaminas e fitoterápicos (por exemplo: Gingko-biloba), com efeito antioxidante, estão sendo estudados quanto ao potencial de neuroproteção.

O uso de antiinflamatórios não hormonais, assim como de estrogênio, parece proteger contra a DA, por razões ainda não totalmente esclarecidas.

Referências:

Brucki, S.M.D.; Bertolucci, P.H.F.; Okamoto, I.H.; Macedo, M.B.M.; Toniolo Neto, J.; Ramos, L.R. Consortium to Establish a Registry for Alzheimer’s Disease. I. Aspectos epidemiológicos. Arquivos de Neuropsiquiatria 1994; 52 (sup.):pp.99.

Brucki, S. M. D. Curso clínico da Doença de Alzheimer. In: Forlenza, O. V & Caramelli, P. Neuropsiquiatria geriátrica, São Paulo, Atheneu, P.119-28, 2000.